domingo, 18 de julho de 2010

AS TRÊS FRASES QUE SE OUVE NO FINAL DA FEIRA






Existem palavras fortes, aquelas que impressionam, marcam principalmente se forem ditas por alguém carismático, atraente, treinado na arte da retórica, demagogos, forjam discursos emocionantes, arrebatam frágeis corações, manipulam e sugam suas vítimas impiedosamente. São os sofistas modernos. grosso modo, como feirantes gritando as três frases mais faladas no final da feira, como arautos apregoadores, noticiando as novas, “o preço caiu, são pra levar, está tudo barato”. Quem não se lembra do “baianinho”, o garoto das Casas Bahia? Aos berros e com gesticulação frenética anunciava a barbada semanal. Aliás, inaugurou uma nova forma de se fazer propaganda, aquela voltada para as massas. O resultado era preciso, logo pela manhã a fila do caixa dobrava a esquina. É claro, tudo em “dez vezes sem juros”. Até aí tudo bem, afinal, o poder de compra do brasileiro mudou, agora dá pra comprar mais e em longo prazo, aliás, passa-se a impressão de uma onipotência capitalista sem precedentes. Ora, numa outra leitura, percebe-se um plano elitista manipulador que a todo custo, deseja levar o pobre para o matadouro a guisa de saborearem suas esperanças. A mesma falácia se nota todo tempo mesmo que sutilmente nas esferas do poder em nosso país, onde, o mesmo discurso pra vender peixe é arma nas mãos das antigas oligarquias que nunca largam o osso. Fala-se em esquerda (em referência ao parlamento francês), de movimentos pró-trabalhador etc. Mas não seria isso, outra roupagem das elites travestidas com o discurso do proletariado? (mais ou menos como a burguesia francesa), Ou melhor, procura-se alimentar o sonho dos desafortunados com a velha política do pão e circo. Pois assim, consegue-se distrair as massas desviando o foco do drama para a comédia de suas vidas. Interessante é que tais indivíduos conseguem ser tão convincentes a ponto de legitimar através do povo sua histórica dominação, é a velha “tirania” mostrando de vez e sempre sua cara.
Falando nisso, aproxima-se o período das campanhas políticas milionárias, dos shows, das carreatas, da propaganda partidária produzida por exímios marqueteiros capazes de vender o “gato como se fosse lebre”, que em um nível mais refinado, são como alguns feirantes que conseguem vender uma melancia colhida há duas semanas como se fosse fresca. Pior ainda é a conhecida balança viciada e mentirosa e mesmo que o peso esteja certo, sempre fica a impressão de que fomos enganados (evidente que nem todos são tão antiéticos assim).
Ora, diz-se que vivemos num estado democrático de direito, e o acesso ao poder, se dá de forma democrática (pelo menos na teoria), contudo, a configuração política atual revela que na esfera dos três poderes em nível sistemático os protagonistas principais são na verdade, uma aristocracia oligárquica, portanto, o povo é apenas um figurante nesse processo. Vejamos, nessa democracia representativa, nosso voto faculta algum direito de nos roubarem? E ainda, já que nos representam e conhecemos seus desempenhos, não estamos sendo coniventes e de certa forma sendo parceiros em suas atividades criminosas? Quando o voto se torna moeda de troca, isso não caracterizaria uma “prostituição política?”, mas quem seria o maior vilão deste enredo, o povo que se vende ou o político que compra? O pobre pai de família não tem muitas opções, pois o mísero salário que ganha (isso quando não está desempregado), impossibilita-o garantir as mínimas condições de subsistência familiar, não consegue prover sua casa dos víveres necessários, nem educar seus filhos numa escola de qualidade, e ainda precisa trabalhar pelo menos quatro meses ao ano só pra quitar seus impostos. É o remoto e ao mesmo tempo atual sistema de corvéia das sociedades antigas, onde o miserável trabalhador além de ter que trabalhar arduamente e em péssimas condições, pesava-lhe ainda as obrigações para com o estado, como impostos, e trabalho gratuito. No sistema feudal, as piores terras eram as suas, e as melhores as do senhor feudal (na verdade todas eram do senhor) sendo obrigado trabalhar em ambas preferencialmente nas do patrão gratuitamente.
O que é interessante na configuração atual das sociedades não são as diferenças, mas as semelhanças com as antigas comunidades, levando em consideração o peso das desigualdades em ambos os momentos históricos e o pressuposto pós-moderno de certa superioridade cultural.


Fábio de Sousa neto

Acadêmico de História PUC-Goiás.

Goiânia, 2010/2

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